Encontramo-nos na chamada «Casa do Passal» na então aldeia de Cabanas de Viriato, na Beira Alta, perto da capital de Distrito, Viseu.
Está um dos dias mais quentes deste verão de 1940; são 4h e os convidados do dono da Casa, o Cônsul de Carreira, Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, estão arrasados pelo calor e pelas terríveis notícias que vão chegando lentamente mas, inexoravelmente.
As emissões de radio da “Emissora Nacional” são interrompidas sem quaisquer explicação e só dão canções populares ou por vezes alguns fados interpretados por estudantes da Universidade de Coimbra, o que torna o Cônsul, seu antigo estudante, ainda mais melancólico e letárgico… a maior parte dos seus convidados, lêem alguns jornais em francês ou inglês, desactualizados claro, e procuram, salas menos expostas ao lado do sol.
Dão passos lentos e falam baixinho, repetindo frases enigmáticas…
Entre os convidados encontram-se Antoine Van Zealand (ex-primeiro-Ministro belga) e esposa, o barão e a baronesa De Vleeshouwer (ministro belga das colónias), dois senhores da Junta de Freguesia local e alguns dos filhos do Cônsul que amavelmente procuram pôr em prática os seus dotes de intérpretes entre as línguas francesa, flamenga e inglesa.
O tema da conversa é a guerra fratricida que mata e envergonha esta Europa tão cheia de Arte, Cultura e Civilização.
Eis que de repente, surgem vindos da Capela, o bom amigo da família, o capuchinho Padre Bernard e o Nobel da Literatura (1911) – Maurice de Maeterlinck, falando com exaltação do inevitável apocalipse que se está abatendo sobre o mundo.
O ambiente torna-se mais pesado e sentindo isso, quase por milagre, aparece Fernandita a jovem governanta que já acompanha Aristides e Angelina, sua esposa e mãe de seus catorze filhos, desde os tempos de Antuérpia…
:-« minhas senhoras e meus senhores viva a vida! o chá está servido!
Preparei umas infusões que vão certamente apreciar e fazer História, pois é esse o clima que se respira aqui: ingredientes que vêm aqui da nossa mata! Folhas de prunela e de hortelã-comum e flores de carqueja!»
Antonio de Moncada de S. Mendes