Há um certo paradoxo na prática do golfe. O local idílico, o contacto com a natureza, a urgência da introspeção e a elegância de um desporto em que o “saber estar” é vinculativo, contrasta com a adrenalina de cada shot, de cada swing de ensaio, de cada momento em que a bola voa obstinada, no seu próprio ritmo, procurando muitas vezes um destino diametralmente oposto ao que o seu dono, o jogador, tinha na cabeça.
O que pode aprender e vivenciar com o Golfe
No golfe há tempo suficiente para degustar os sucessos, mas há ainda mais tempo para remoer os desastres causados do tee ao buraco.
Talvez por isso, o jogador de golfe necessite de uma certa disciplina mental. A resiliência de quem, por falhar uma vez, saiba que não é obrigatório falhar a seguir. De que um percalço não é uma sentença no final do jogo.
Uma volta convencional de 18 buracos dura cerca de cinco horas. Olhemos para este período como a temporada de uma série, em que cada buraco é um episódio, dentro do qual cada shot é uma cena dramática.
Se o caro leitor é jogador de golfe, nesta fase do texto já estará solidário com o autor, porque ninguém é imune à tragicomédia da modalidade. Se não joga, não julgue que estas aventuras e desventuras tornam o jogo menos interessante.
É o oposto. Parece que cria aquela paixão pelo abismo. Com o tempo, aprendemos a controlar as emoções e a perceber a importância das pausas, em especial das boas.
Nos momentos de transição, cada jogador tem o seu ritual e estilo. Uns, mais extrovertidos, aproveitam para colocar a conversa em dia: política, desporto, a meterologia, o conhecido que faleceu ou o “jogo lento” que atrasa as formações de trás…
Outros preferem matutar e fazer contas do que foi e do que falta vir naquele jogo. Sair “da zona” pode resultar numa bola perdida no buraco seguinte.
Mas há pausas e pausas. Nos torneios de golfe social convencionou-se o chamado “bar de campo”, onde os jogadores reforçam, não a moral, mas o estômago. A energia retempera-se e, “ipso facto”, o jogo ganha nova vida.
Paredes Golf Cup – Ligação entre o Golfe e o Chá
Este preâmbulo serve para partilhar uma experiência única, que testemunhei e degustei. A união do golfe às Infusões com História surpreendeu-me tanto quanto ao meu palato.
Estava muito calor, o meu corpo anunciava estar bem mais quente que o meu jogo, que se processava morno, num ritmo de pontos que daria para meio da tabela.
Era dia de Paredes Golf Cup, o maior torneio que o Campo de Golfe do Aqueduto recebe anualmente.
Quase 80 jogadores em campo, vários prémios em disputa e orgulho de vestir o Green Jacket, qual Masters Augusta do Norte de Portugal.
A meio do percurso, os jogadores encontraram, no tee do buraco 2, uma bela mesa entoalhada de branco, com um decanter que reluzia aos nossos olhos, como o ouro reluz ao desgraçado.
Do Tee ao Tea – O papel da Infusões com História
Foi o momento de sentir uma refrescante Infusão do Mato.
O aroma a carqueja, que no Norte de Portugal brota bravia nos montes, brindava com a prunela, florescida junto aos nossos charcos e lameiros. A hortelã unia tudo com o rasto travado que nos impregna na boca.
A harmonização entre golfe e chá fez o meu dia. Do “tee” (o espaço onde os jogadores começam cada buraco) ao “tea” pude testemunhar uma experiência insuspeita.
De tão original, que poucos terão imaginado, a tão óbvia, que muitos procurarão daqui para a frente.
O golfe vai bem com as Infusões com História. Mais não seja pela acalmia que nos transmite, num desporto onde o paradoxo da calma/adrenalina nos jorra a cada bola que entra ou que fica pendurada.
Onde a frescura do Verão ou o quente do Inverno encaixam nas pausas do jogo. Onde o jogador compensa o seu palato, independentemente dos méritos do seu jogo.