A Infusão Estival, da Infusões com História, acompanhou-me nos dias quentes do Verão que finda.
A frescura que deixa na boca quando a bebo, traz-me à memória todos os verões quentes da minha infância e adolescência.
As férias grandes, os dias longos, as brincadeiras com os primos e amigos de fora, os banhos no rio e as cabras-cegas que povoavam as águas geladas e nos observavam a cada mergulho.
Recordações da aldeia que, de forma possessiva, considero minha e principalmente das gentes que a habitaram e já não fazem parte desta geografia, mas que continuam a alimentar memórias e a aquecer-me o coração nos momentos mais frios.
É este o verdadeiro poder que estas maravilhosas e mágicas infusões têm sobre mim…abrem as gavetas da minha memória, avivam lembranças e provocam sensações e sentimentos arrebatadores.
As infusões são diferentes nos seus aromas e sabores, mas todas são iguais no ato de desencadear sucessivos mergulhos para dentro, ajudando-me a resgatar muito do meu eu perdido na espuma dos dias e a abraçar fragmentos de mim presos às vicissitudes da vida.
Infusões que sabem a Terra
Todas elas me sabem a Terra, a milho a secar na eira, a rio, a uvas acabadas de vindimar, a colo aconchegante da mãe Natureza. Apetece-me fingir que sou mística e guardadora de rebanhos só para poder contrariar o Poeta e os seus versos.
Acredito que as flores sentem e as pedras têm alma e os rios têm êxtases ao luar. E ao sentirem, as flores não são apenas flores, são gente.
E por terem alma, as pedras são coisas vivas e não apenas pedras. E por terem êxtases ao luar, os rios podem ser homens sadios.
É preciso saber o que são flores e pedras e rios para falar dos sentimentos deles e dos meus. Falar da alma das pedras, das flores, dos rios, é falar de mim própria e dos meus verdadeiros sentimentos.
Graças a Deus que as pedras são muito mais do que pedras e que os rios são muito mais do que rios.
E que as flores são muito mais do que apenas flores. Por mim, escrevo a prosa de outros versos e fico contente, porque sei que compreendo a Natureza por fora e também a compreendo por dentro.
Porque a Natureza tem dentro e é muito mais do que simples natureza.
O elogio da simplicidade mística
O Outono chega de mansinho e traz consigo uma Infusão Mística que sabe prosaicamente a poejo, a folhas de oliveira e de videira.
Mas lá no fundo, e depois de a saborear lentamente, esta infusão sabe a simplicidade e cumprimenta os ritmos e as cores outonais ao mesmo tempo que traz um convite ao despojamento do que já não cabe nos dias.
O que a estação me traz ao sabor desta infusão e que quero transpor em palavras é a proposta de deixar cair, ao ritmo da queda das folhas das árvores, o que já não serve ou complica a vida.
Destralhar, limpar, arrumar gavetas e armários, físicos ou mentais, mudar de hábitos e de rotinas e fazer diferente para conseguir um alinhamento com os ritmos da natureza e da estação.
Poderá ser esta a ajuda necessária para curar o corpo e a mente de um estado de embriaguez permanente a que o bulício do dia-a-dia obriga.
Nota sobre este artigo de Blog
Este testemunho foi escrito por Ana Margarida Azevedo, Founder & CEO Pés Na Terra Turismo.